quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

" O texto histórico como Artefato Literário" - Hayden White

Resenha Hayden White – “O Texto Histórico como Artefato Literário”.

A partir da problematização do status da narrativa histórica, status esse que White considerou despercebido pelos filósofos e historiadores, Hayden White constrói a idéia principal de seu texto, a relação da narrativa histórica com o discurso literário, ou, mas precisamente a relação “História” e “Literatura”. Para White, “houve uma relutância em considerar a narrativas históricas como aquilo que elas realmente são: ficções verbais cujos conteúdos são tanto inventados quanto descobertos e cujas formas têm mais em comum com os seus equivalentes na literatura do que com os seus correspondentes nas ciências.” (pp.98). Assim para White, apesar do escândalo entre os historiadores, o discurso histórico não se opõe radicalmente ao discurso mítico, pois o próprio discurso do historiador é formado por diferentes tipos de mitos históricos: como românticos, trágicos, irônicos.
No seu empenho em decifrar as suas fontes o historiador é capaz de criar estórias, usando a sua imaginação construtiva, a partir dessas fontes, ele age como um detetive, interpretando e dialogando com as fontes e evidências, mas essa interpretação da fonte é definida pelo tipo de estória que o historiador decide contar, seja ela uma história irônica, trágica ou mesmo uma epopéia. A partir desse ponto para White, não existe uma verdade permanente no discurso do historiador sobre uma história, nem significa que a história por ele construída seja a “pura verdade” sobre o fato, pois o historiador também está sujeito a ser julgado. Pois um mesmo evento pode ser contado de várias formas e possuírem sentidos diferentes, esse sentido é instituído pelo historiador, no seu diálogo com a fonte e na construção do sentido que ele deseja dar para a sua estória, e não significa que um historiador tenha mais conhecimento que o outro e que contam histórias diferentes sobre o seu objeto, é definido pela escolha do historiador e como ele vai contar a sua estória. Assim em sua estória, o historiador a carrega de elementos e eventos aos quais ele quer configurar o sentido de sua narrativa, para a interpretação do leitor, e este a partir do relato do historiador, identificar a qual tipo pertence este sentido, irônico, romântico, trágico, entre outros.
A diferença principal de White com outras vertentes historiográficas, se revela em que, para ele a narrativa histórica não é como se ela fosse uma maquete que revelasse as características do original. Os processos e estruturas históricos não são revelados como os originais. O historiador não deve analisar o passado criando explicações que sirvam como modelos de fatos, mas “as narrativas históricas são não apenas modelos de acontecimentos e processos passados, mas também afirmações metafóricas que sugerem uma relação de similitude entre esses acontecimentos e processos e os tipos de estória que convencionalmente utilizamos para conferir aos acontecimentos de nossas vidas significados culturalmente sancionados” (pp.105). As narrativas históricas apenas servem para descrever o acontecimento e caracterizá-lo, mas também é mediadora entre, os acontecimentos nela relatados e a estrutura do enredo, que dota de sentido o acontecimento e situações não-familiares.
De acordo com White, a relação entre História e Literatura se dá em que ambas possuem interesse mais no “real” que no “possível”, afastando a história da proximidade com as ciências naturais, pela sua falta de rigor conceitual e malogro em criar leis universais. Como a literatura, a história “se desenvolve por meio de produção de clássicos, cuja natureza é tal que não podemos invalidá-los nem negá-los, a exemplo dos principais esquemas conceituais das ciências. E é o seu caráter de não-invalidação que atesta a natureza essencialmente literária dos clássicos históricos.” (pp.106). A visão da narrativa histórica para Hayden White, é “de uma narrativa histórica como uma metáfora de longo alcance. Como estrutura simbólica, a narrativa histórica não reproduz os eventos que descreve; ela nos diz a direção em que devemos pensar acerca dos acontecimentos e carrega o nosso pensamento sobre os eventos de valências emocionais diferentes. A narrativa histórica não imagina as coisas que indica: ela traz à mente imagens das coisas que indica, tal como faz a metáfora. (...) as histórias nunca devem ser lidas como signos inequívocos dos acontecimentos que relatam, mas antes como estruturas simbólicas, metáforas de longo alcance, que “comparam” os acontecimentos nelas expostos a alguma forma com que já estamos familiarizados em nossa cultura literária “(pp.108). Partindo da idéia de White, a história deve fornecer as diretrizes capazes de levar a compreensão dos símbolos para o leitor, pois ela não fornece o ícone ou descrição do que representa, mas fornece as imagens que devemos procurar para a sua compreensão, dando sentido a conjuntos de acontecimentos passados, e a similarização desses acontecimentos passados. Sendo uso do historiador, uma linguagem culta e formal, capaz de ser interpretada e revelada ao leitor comum.
Para White a crise na Historiografia, está na tentativa da história se tornar científica e objetiva,  esquecendo assim sua maior fonte de vigor e renovação “ Ao fazer a historiografia recuar uma vez mais até a fonte sua íntima conexão com a sua base literária, não devemos estar apenas nos resguardando contra distorções simplesmente ideológicas; devemos fazê-lo no intuito de chegar àquela “teoria” da história sem a qual não se pode de maneira alguma considera - lá “disciplina” (pp.116).

Referências Bibliográficas

WHITE, Hayden . Trópicos do Discurso: Ensaios sobre a Crítica da Cultura/ Hayden White. Tradução de Alípio Correia de Franca Neto – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1994.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Haiti



    No segundo semestre de 2008, realizei um trabalho sobre a independência do Haiti, fato até então, pouco conhecido por mim, não nego que o motivo de minha inspiração para a realização desse trabalho, fora a surpresa em descobrir as riquezas do Haiti no final do século XVIII, até então uma colônia francesa com o nome de Santo Domingo, e a conquista da independência realizada por uma tropa de escravos, ou se preferir ex-escravos, liderados pelo considerado Napoleão de ébano, Toussaint Loverture e Dessalines. Capazes de infringir a primeira grande derrota das temíveis tropas napoleônicas, e sacudir os regimes escravocratas americanos.
     Em meio a um passado glorioso cujo atos heróicos de Toussaint Loverture fora homenageado com uma mensagem de Napoleão Bonaparte, reconhecendo seu erro ao enfrentar o general negro ao invés de aceitar a abolição da escravidão no Haiti. Infelizmente, essa rica e próspera ilha do Caribe, considerada a pérola das Antilhas, acabou tendo seus modos de produção e a economia arruinada pela longa guerra de independência. Após a independência, o país jamais recuperou a economia ao nível da prosperidade anterior e sofreu com constantes ditaduras sangrentas e golpes de estado, como as bizarrices sanguinolentas de Papa Doc e Baby Doc, além dos infortúnios das catástrofes naturais que assolam o país.
     Espero que dessa vez, o Haiti se reconstrua e se torne tão próspera quanto foi no passado, que resolva os problemas econômicos, miséria e a fome que assola o país, além de se estruturar politicamente, que os demais países dessa vez acabem cumprindo suas promessas e auxiliando os haitianos na construção de um país capaz de oferecer condições dignas de vida aos seus habitantes.