Resenha Hayden White – “O Texto Histórico como Artefato Literário”.
A partir da problematização do status da narrativa histórica, status esse que White considerou despercebido pelos filósofos e historiadores, Hayden White constrói a idéia principal de seu texto, a relação da narrativa histórica com o discurso literário, ou, mas precisamente a relação “História” e “Literatura”. Para White, “houve uma relutância em considerar a narrativas históricas como aquilo que elas realmente são: ficções verbais cujos conteúdos são tanto inventados quanto descobertos e cujas formas têm mais em comum com os seus equivalentes na literatura do que com os seus correspondentes nas ciências.” (pp.98). Assim para White, apesar do escândalo entre os historiadores, o discurso histórico não se opõe radicalmente ao discurso mítico, pois o próprio discurso do historiador é formado por diferentes tipos de mitos históricos: como românticos, trágicos, irônicos.
No seu empenho em decifrar as suas fontes o historiador é capaz de criar estórias, usando a sua imaginação construtiva, a partir dessas fontes, ele age como um detetive, interpretando e dialogando com as fontes e evidências, mas essa interpretação da fonte é definida pelo tipo de estória que o historiador decide contar, seja ela uma história irônica, trágica ou mesmo uma epopéia. A partir desse ponto para White, não existe uma verdade permanente no discurso do historiador sobre uma história, nem significa que a história por ele construída seja a “pura verdade” sobre o fato, pois o historiador também está sujeito a ser julgado. Pois um mesmo evento pode ser contado de várias formas e possuírem sentidos diferentes, esse sentido é instituído pelo historiador, no seu diálogo com a fonte e na construção do sentido que ele deseja dar para a sua estória, e não significa que um historiador tenha mais conhecimento que o outro e que contam histórias diferentes sobre o seu objeto, é definido pela escolha do historiador e como ele vai contar a sua estória. Assim em sua estória, o historiador a carrega de elementos e eventos aos quais ele quer configurar o sentido de sua narrativa, para a interpretação do leitor, e este a partir do relato do historiador, identificar a qual tipo pertence este sentido, irônico, romântico, trágico, entre outros.
A diferença principal de White com outras vertentes historiográficas, se revela em que, para ele a narrativa histórica não é como se ela fosse uma maquete que revelasse as características do original. Os processos e estruturas históricos não são revelados como os originais. O historiador não deve analisar o passado criando explicações que sirvam como modelos de fatos, mas “as narrativas históricas são não apenas modelos de acontecimentos e processos passados, mas também afirmações metafóricas que sugerem uma relação de similitude entre esses acontecimentos e processos e os tipos de estória que convencionalmente utilizamos para conferir aos acontecimentos de nossas vidas significados culturalmente sancionados” (pp.105). As narrativas históricas apenas servem para descrever o acontecimento e caracterizá-lo, mas também é mediadora entre, os acontecimentos nela relatados e a estrutura do enredo, que dota de sentido o acontecimento e situações não-familiares.
De acordo com White, a relação entre História e Literatura se dá em que ambas possuem interesse mais no “real” que no “possível”, afastando a história da proximidade com as ciências naturais, pela sua falta de rigor conceitual e malogro em criar leis universais. Como a literatura, a história “se desenvolve por meio de produção de clássicos, cuja natureza é tal que não podemos invalidá-los nem negá-los, a exemplo dos principais esquemas conceituais das ciências. E é o seu caráter de não-invalidação que atesta a natureza essencialmente literária dos clássicos históricos.” (pp.106). A visão da narrativa histórica para Hayden White, é “de uma narrativa histórica como uma metáfora de longo alcance. Como estrutura simbólica, a narrativa histórica não reproduz os eventos que descreve; ela nos diz a direção em que devemos pensar acerca dos acontecimentos e carrega o nosso pensamento sobre os eventos de valências emocionais diferentes. A narrativa histórica não imagina as coisas que indica: ela traz à mente imagens das coisas que indica, tal como faz a metáfora. (...) as histórias nunca devem ser lidas como signos inequívocos dos acontecimentos que relatam, mas antes como estruturas simbólicas, metáforas de longo alcance, que “comparam” os acontecimentos nelas expostos a alguma forma com que já estamos familiarizados em nossa cultura literária “(pp.108). Partindo da idéia de White, a história deve fornecer as diretrizes capazes de levar a compreensão dos símbolos para o leitor, pois ela não fornece o ícone ou descrição do que representa, mas fornece as imagens que devemos procurar para a sua compreensão, dando sentido a conjuntos de acontecimentos passados, e a similarização desses acontecimentos passados. Sendo uso do historiador, uma linguagem culta e formal, capaz de ser interpretada e revelada ao leitor comum.
Para White a crise na Historiografia, está na tentativa da história se tornar científica e objetiva, esquecendo assim sua maior fonte de vigor e renovação “ Ao fazer a historiografia recuar uma vez mais até a fonte sua íntima conexão com a sua base literária, não devemos estar apenas nos resguardando contra distorções simplesmente ideológicas; devemos fazê-lo no intuito de chegar àquela “teoria” da história sem a qual não se pode de maneira alguma considera - lá “disciplina” (pp.116).
Referências Bibliográficas
WHITE, Hayden . Trópicos do Discurso: Ensaios sobre a Crítica da Cultura/ Hayden White. Tradução de Alípio Correia de Franca Neto – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1994.
3 comentários:
Oh meu caro amigo, gostei de sua resenha. Realmente levantaste uns dos principais questionamentos do capitulo do livro. Estou usando este também para realizar um trabalho. Valeu pela recapitulação da temática.
Obrigado Guapetón! espero que tenha te ajudado.
Salvou minha vida. Valeu. Ufa.
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